Para o final do 3º Ano e início do 4º Ano
OS COLEGAS
(Lygia Bojunga Nunes)
No princípio eram só dois cachorros. Tinham se encontrado pela primeira vez revirando a mesma lata de lixo.
– Esse osso que tem aí é meu!
– É meu!
– Já disse que é meu!
Se zangaram, rosnaram um pro outro. E então se atracaram dispostos a uma briga feia. Foi quando passou por ali um garoto assobiando um samba. Os dois interromperam a briga e começaram a prestar atenção na música que ele assobiava.
– Está errado! – disse um deles pro garoto.
– Esse samba não é assim. É assim! – disse o outro.
E começaram a cantarolar certo a melodia do samba.
O garoto nem ligou e foi embora. Mas os dois ficaram cantando a música até o fim. E depois um deles disse:
-Acho esse samba o máximo!
– Legal! – falou o outro.
– Sabe? Coisa que eu gosto é de fazer samba!
– Ah, é? Então somos colegas.
Esqueceram o osso e a briga. Sentaram no meio-fio e começaram a falar de samba. Ficaram muito interessados um no outro.
– Como é que você se chama?
– Não sei. Ninguém nunca me chama pra eu saber como é que eu me chamo. E você?
– Vira-lata.
– Quem é que chama você assim?
– Chamar ninguém chama. Mas gritam; “Sai daí, seu vira-lata!” “Olha um vira-lata no jardim!” “Acerta uma pedra nesse vira-lata!”
– Bom isso tudo eu também estou sempre ouvindo.
– Então pronto: você também se chama Vira-lata.
Se olharam melhor pra ver como é que eram: malhados, e o tamanho mais ou menos o mesmo. […]
Conversaram e foram vendo que gostavam das mesmas coisas: futebol, praia, carnaval, bater papo e cantar…
– Acho que a gente vai acabar ficando amigo!
– Também acho!
Dividiram o osso.
– Onde é que você mora?
– Num terreno baldio lá perto da praia.
– Tem casa?
– Não, mas tem um monte de entulho, bom mesmo!
– Bom, pra quê?
– Pra gente cavar quando quer, se esconder atrás quando precisa, fingir de casa quando cisma.
– Vou lá ver.
Quando chegou, gostou um bocado do lugar.
– Está me dando uma vontade de cismar que é minha casa…
Acabou cismando. E logo descobriram que, em samba, um gostava mais de bolar a letra, o outro de bolar a música. Fizeram, então, o primeiro samba em parceria:
“Vida, acho você a maior
Quanto mais penso em você
Mais eu vejo que te gosto
E que não tem coisa melhor…”
Dispostos a mostrar o samba pra todo mundo, saíram pela praia cantando e batucando nas caixas de fósforos que tinham encontrado na areia. Muita gente gostou! Paravam e perguntavam:
– De quem é a letra desse samba?
– Do Vira-lata.
– E a música?
– Do Vira-lata.
– Também?
– Não, é que somos dois!
Viram que aquilo dava confusão, e naquele dia mesmo um resolveu se chamar Virinha e o outro Latinha.
E foi também naquele dia que se tornaram amigos inseparáveis! E uma dupla de sucesso: Virinha e Latinha!
Sugestões de palavras para o Teste da Psicogênese
DITADO
01-osso
02-cachorro
03-praia
04-começaram
05-samba
06-chamar
07-revirando
08-lixo
09-entulho
10-carnaval
FRASE: Os dois cachorros eram amigos e parceiros de música.
RECONTO
Esse texto é uma crônica, relata um fato do cotidiano. Tem muitos diálogos, o que dificulta a interpretação. Aconselho fazer uma dramatização, com mudança de vozes, entonações diferenciadas nas diversas situações. Facilita imaginar que os cachorros são uma fêmea e um macho, mas não precisa dar sentido romântico, apenas destaque a amizade e união entre eles. Se não conseguir, não precisa “cantar” a estrofe do samba, não atrapalhará a interpretação do texto. Leia mais de uma vez até que todos entendam a história. Seria interessante aplicar esse teste depois que for trabalhado o uso do travessão em sala de aula. Depois peça para cada um fazer o reconto por escrito, do jeito que der conta, do jeito que sabe, sem interferência do(a) professor(a), sem ajuda dos colegas. Se der tempo, peça para cada criança ler o que escreveu.
ILUSTRAÇÃO
Depois peça para ilustrarem o texto, se quiserem e se não estiverem cansados. Claro, observe o tempo para realização dessa atividade.